sábado, 26 de fevereiro de 2011

Contos Niilistas : Lullabies to Paralyze

E mais uma vez meu dia é estragado pelo simples fato de que eu abro os olhos de manhã e vejo o quão desnecessário se faz me levantar.

Quantas pessoas se levantam roboticamente todos os dias para a labuta? Quantos realmente se sentem motivados a isso? Nós possuímos um Modus Operandi, é tipo um cachorro que corre atrás de um carteiro sem saber porque (nem mesmo sabem que eles são os mensageiros das contas pra pagar no fim do mês), nossos carteiros são cifrões que nem nos fazem viver, é mais como sobrevivência, nós nem conseguimos aproveitar de forma substancial.

É nesse momento, quando eu olho para o teto branco do meu quarto, depois de mais uma noite mal dormida que eu percebo que seria muito mais intenso se eu ficasse deitado, ficasse no meu mundo, naquele que eu construo com sinapses mais veloses do que carros da NASCAR, sem Freddy Krueger pra me encher, sem pessoas pra me socializar.

Soa pretencioso. É pretencioso.


sábado, 19 de fevereiro de 2011

Diálogos V

Se houvesse um Ranking das frases mais estúpidas para motivar alguém "Ela tá chapada, não vai nem lembrar" estaria lutando muito pelo primeiro lugar contra "Eu prometo que vai ser legal".

No carro, voltando pra casa quando mais uma vez eu preferi cama quente e lençois limpos do que socializar.

Ele: Você tá triste?

Eu: Não, tou bem.

Ele: Ah vá, eu te conheço e não é de hoje.

Eu: Nada cara, eu tou bem.

Ele: Olha...Não se mente...

Eu: Não tou mentindo, ok? Só que essa história de conversar nunca faz você se sentir melhor.

Ele: Eu sei, por isso que eu odeio psicólogos...

Eu: Mas...

Ele: Com seus consultórios e suas placas escrito "Dr."

Eu: É porque...

Ele: Nem médicos são "Dr." de verdade, psicócolos nem podem passar remédios...Estão muito abaixo na hierarquia...

(As vezes ele tem o mesmo problema que eu...Ele tem todos os problemas que Eu possuo.)

Eu: Você quer me ouvir ou vai falar do que você odeia?

Ele: Ok ok, fala.

Eu: Sabe, eu falo muito...

Ele: Demais até...

Eu: ...Pra esconder que na real eu não queria falar nada, eu simplesmente fico nervoso.

(e mais uma vez Ele faz sua cara de psicanalista freudiano que vai dizer que eu queria fazer sexo com um pneu de carro.)

Ele: Então calma, você fala muito porque você queria ficar calado?

Eu: Soa estranho, né?

Ele: Isso é retardado.

Eu: Eu falo muito porque eu quero externalizar um "Eu" feliz, saca?

Ele: Agora eu tou ficando deprimido...

Eu: Eu disse que não queria falar.

Ele: Não, ok eu pedi né? Mereço.

Eu: Então, daí saí com Ela...

Ele: Eu sabia que a porra da tua depressão se dava por causa de alguma guria.

Eu: Não tou deprimido, eu SOU deprimido...É diferente.

Ele: Pra mim é a mesma coisa, falta do que fazer...

Eu: Não é um momento, é uma constante.

Começa a cair uma neblina e o assunto se perde. Sinceramente? Não quero pensar em nenhum motivo que me deixa deprimido, talvez seja uma forma passiva de expurgar ou apenas um paleativo.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Contos Niilistas : Eu Encontrei Jesus

Alguém: E aí que ela te deixou?
Eu: É...
Alguém: E como você está?
Eu: Eu encontrei Jesus, cara.
Alguém: Você virou crente?

Eu: Não, eu estava voltando pra casa e quando virei a esquina encontrei Jesus, ele é um mendigo que mora do lado direito da Igreja, vive bêbado... Tinha um grupo de crianças brincando do lado sabe, andando de bicicleta e ele disse "Vinde a mim as criancinhas".

Alguém: E isso de alguma forma mudou você?

Eu: Não! Eu chamei a polícia, isso é mó papo de pedófilo.

Alguém: e o que isso tem a ver com o que começamos a conversar?

Eu: Enquanto a polícia espancava ele eu percebi nos seus olhos semi-abertos a felicidade que aquele homem que não tomava banho a no mínimo uns 22 dias sentia, não era porque hoje ele tinha comido, não era porque a Josefa, mendiga que mora na praça ás vezes fazia sexo oral nele, era porque ele estava tão bêbado que não sentia dor.

Alguém: Isso é doentio, não sei onde você quer chegar.

Eu: Que eu tenho que voltar a beber, a vida é bem mais fácil de se tragar quando se está inconsciente.




domingo, 6 de fevereiro de 2011

Diálogos IV

Encostado no carro em uma atípica noite em que não está tão quente quanto o normal, enquanto eu bocejo porque o tédio me consome (e talvez minha cama fosse mais interessante do que simplesmente ficar na frente de um bar encostado em um carro ouvindo as mesmas músicas de sempre como garotos perdidos na década de 90) Ele faz um baseado e reclama porque mais parece um pastel.

Eu: É sério que tu tá fazendo isso aqui?

Ele: E você quer que eu faça onde?

Eu: Não no meio da rua? Você sabe que isso é ilegal né?

Ele: Desculpa pai, eu não queria que você ficasse desapontado nunca mais vou usar nada, nem beber alcool eu irei.

Essa ironias que Ele usa realmente me deixa puto, só que ás vezes elas são muito boas e me sinto mal por deixar um talento como esse ser esmagado pelo meu mal-humor.

Eu: Tá certo, continua. Se a polícia passar eu serei fichado de qualquer forma.

Ele: Muito obrigado pelo companheirismo.

Eu: Eu tenho alguma escolha?

Ele: Não, infelizmente não.

Eu: E aí o que me conta de novo?

Ele: Nada demais, daqui a uns 15 minutos eu vou estar 1,5% mais imbecil e você?

Ele acende o cigarro e eu começo a me encomodar, tenho rinite.

Eu: Tem como virar essa coisa pra lá?

Ele: Ué, você não quer?

Eu: Não, brigado.

Ele: Tanto faz, sobra mais pra mim...Mas conta, como andam as coisas?

Eu: Normais, entediantes como sempre - um momento niilista da minha vida.

Ele: Você ainda tá saindo com aquela guria lá?

Eu: Quem?

Ele: São tantas assim? Não sabia que eu estava falando com um pegador.

Eu: Falar "Quem?" é automático, acho que meu charme se equipara ao do Woody Allen, ou seja, meu futuro é me casar com minha enteada vietnamita.

Ele: Ela não é chinesa?

Eu: Não lembro, mas eu gosto do vietnã, no meu mundo ela é vietnamita.

Ele: Ok ok, na sua rua ela pode vir de qualquer lugar, continue a história antes que eu fique lento demais pra prestar atenção.

Eu: Não estamos mais juntos, quer dizer, nunca ouve um "Nós".

Ele: Mas você queria um "Nós" não é?

Eu: Queria, óbvio.

Ele: E por isso acabou? Nossa cara, você é tão clichê.

Eu: Não, calma...Não foi por ESSE motivo específico.

Ele: E foi porque? Vocês sempre combinaram...

Eu: Sempre combinamos né? Gostamos das mesmas bandas, mesmos filmes até gostamos de músicas ruins e obscuras da década de 80...

Ele: Garoto apaixonado, pare de falar merda e diga logo porque não deu certo.

Eu: Eu cansei.

Ele: Dela?

Eu: Não, cansei de ser o "Garoto-Me-Desculpa".

Ele: Eu sei que eu já estou lento mas, pode me explicar porque eu não consigo fazer um sintal de interrogação no meu rosto.

Eu: Eu sempre fui tratado como um erro para ela, ela enchia a cara e a gente se pegava, no outro dia tinha o que? "Desculpa, foi sem querer". Ela bebia e a gente dormia, no outro dia tinha o que? "Desculpa, eu me excedi" - Foda-se.

Ele: Hmm, gostei disso...Atitude.

Eu: O problema é que eu sempre voltava.

Ele: E o que você fez para parar?

Eu: Parei de voltar, ué.

Ele: Tão simples.

Eu: Não sou um brinquedo pra se usar e jogar fora.

Ele: Tava demorando pra começar os sentimentalismos...

Eu: Não é sentimentalismo, é a verdade.

Ele: Claro claro, ela usava os poderes mutantes de Jean Grey para controlar sua mente com uma ubber-libido matadora e te usava inúmeras vezes para se sentir melhor com seu ego enquanto o probre garoto se iludia com o maldito amor.

Eu: É como eu digo: "Uma vez é acidente, duas é coincidência mas três é ação do inimigo."

Ele: Isso é seu? Eu tenho a ligeira impressão que já vi isso em algum lugar.

Eu: Impressão sua, deve ser o efeito aí.

Ele: Nem duvido.

Eu: Hey, bora comer? Bateu uma larica.

Ele: Né? Em mim também, nem sei porque.

Nem era tão tarde, ninguém entendeu porque eu queria ir pra casa me trancar no meu quarto e esperar que houvesse algo na internet que eu não tivesse lido, nem eu entendia. Eu tava preferindo minha cama do que qualquer tipo de socialização, no meio do caminho fomos comer naquela lanchonete que não é tão limpa quanto eu desejaria que fosse, a garçonete do sorriso bonito não estava lá, mas eu acho que ultimamente tenho vindo aqui pelos molhos, descobri que ela tem uma aliança na mão esquerda.